|

As correspondências oficiais entre a Coroa Portuguesa e o Morgado de Mateus, governador e capitão-general da Capitania de São Paulo (1765-1775)

A ação de D. Luís António de Sousa Botelho Mourão, 4º morgado de Mateus (1722-1798), como governador e capitão-general de São Paulo entre 1765 e 1775, constituiu-se como a força propulsora de uma época de florescimento político, econômico, social e cultural da capitania logo após a recuperação da sua autonomia face ao Rio de Janeiro, conforme demonstraram os trabalhos seminais de Heloísa Liberalli Bellotto (2007) e, mais recentemente, de Rui Vieira Nery (2012).
D. Luís António era um espírito do seu tempo, um iluminista, senhor de um saber eminentemente pragmático. A sua maneira de agir não se desvinculava da sua formação e da sua posição social – a fidalguia revelada pelo uso do Dom que lhe provinha da família materna. De caráter forte, tinha “um sentido de autoridade e hierarquia levado às raias do exagero, no qual a tenacidade em relação aos desafios caracterizar-se-á por uma coerência a toda a prova” (BELLOTTO, 2007, p. 215). Acrescia à disciplina e ao autoritarismo da formação militar, o moralismo e o ritual quotidiano da piedade, da religiosidade, que tantas evidências legou à posterioridade, desde logo a imponente capela da sua Casa de Mateus cuja conclusão supervisionou pessoalmente.
Neste estudo, realizado a partir da transcrição semidiplomática dos documentos do arquivo da capitania e do arquivo pessoal e familiar do morgado de Mateus, a autora oferece-nos novas abordagens novas abordagens e interpretações do(s) discurso(s) e exercício do poder, permitindo identificar novas dinâmicas da ação governativa e contribuindo para o esclarecimento do seu impacto nas relações entre governo e governados. Para tal, a autora desenvolveu intensivas pesquisas no Brasil e em Portugal, muito particularmente na Fundação da Casa de Mateus, que guarda uma parte importante do arquivo do governador de São Paulo, no sentido de construir e oferecer aos leitores pontos alternativos, diferentes ângulos de análise e observação de D. Luís António, do seu governo, de São Paulo e do Brasil nas suas relações com a metrópole, sempre enquadradas no necessário contexto histórico, social, político e cultural.
Recorrendo a um dispositivo epistemológico consistente, aliando com desenvoltura a heurística e a hermenêutica, Renata Munhoz demonstra uma notável capacidade de atualização ao nível da bibliografia brasileira e estrangeira na área da Filologia e disciplinas auxiliares, mas também da História. A profundidade das suas pesquisas e a destreza e rigor no manuseamento de fontes primárias, valorizados pela sua profundidade analítica são, aqui e ali, pontuados por lampejos de uma erudição que reclama, com suavidade mas inegável determinação, o necessário enquadramento institucional para poder se desenvolver e consolidar entre seus pares.
Abel Rodrigues (Instituto de Estudos Medievais Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Universidade Nova de Lisboa)

Posts Similares