Políticas Afirmativas e Democratização do conhecimento da Pós-graduação em Educação do Nordeste
Pesquisar, compor, apresentar, organizar, avaliar, enviar, convidar, receber, esperar, fazer, esquecer, mediar, publicar, divulgar, escrever, expor, aceitar, reprovar, reavaliar, secretariar, poder, afetar, escutar, viver, encruzilhar, manter a ética. Quantas ações são possíveis em um evento como o EPEN? Não sabemos ao certo. Vocês, leitores, sabem? Calma, gente! Nossa proposta é de abertura. De abrir caminhos ou mesmo a partir da encruzilhada.
O XXVII Encontro de Pesquisa Educacional do Nordeste (EPEN) – Reunião Científica Regional Nordeste da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Educação (ANPEd) – foi um espaço coletivo de trocas, experiências e de produção de conhecimento. De algum modo, nesse texto de abertura, priorizamos destacar que a formação, a circulação e a divulgação da pesquisa em educação no Nordeste brasileiro são pulsantes, vibrantes, com pitadas de gritaria, bocas salivantes, escritas selvagens. Sim, tudo isso existe na pós-graduação em educação do Nordeste. Há, sem dúvidas, espaços de instabilidade epistêmica e isso é ótimo. Essa edição tem esse propósito: evidenciar, abalar, quebrar, desmoronar e, de algum modo, ressignificar ou tirar da malinha teorias e métodos que não nos representam mais.
O EPEN foi organizado coletivamente pelo Fórum de Coordenadores de Programas de Pós-graduação em Educação do Nordeste (FORPRED/NE) e pelo Programa de Pós-graduação em Educação (PPGED) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), com o apoio do Instituto Federal do Sertão de Pernambuco (IFSertãoPE), que voltou ao formato presencial, reunindo pesquisadores(as) do campo da educação da região Nordeste, pesquisadores(as) das demais regiões do Brasil e do exterior. O tema escolhido para a edição, “Políticas Afirmativas, Democratização do Conhecimento e da Sociedade”, foi sugerido pela comissão local e aprovado pela reunião do Forpred Nordeste e foi inspirado em eventos ativistas, como o ConQueer, para valorizar e reafirmar o compromisso do PPGED/UFS com “uma comunidade acadêmica crítica às normalizações, naturalizações, essencializações, monoculturas, binarismos” (Dias, Anjos e Santos, 2023, p. 2), bem como no enfrentamento das assimetrias e desigualdades nos processos de produção e difusão do conhecimento em educação.
Sem comparações, pois não se comparam edições de eventos. Nunca foi pedido. Um desrespeito. Um ato falho. Muitos colegas dedicados deram o máximo pela continuidade da existência do EPEN. Nosso inimigo é outro, que ainda não foi completamente varrido, esquecido, nem ficou no passado. Então, nós queremos com essa edição celebrar a vida, a nossa existência, a possibilidade de reunir; de promover o intercâmbio entre pesquisadores(as) do campo da educação experientes e jovens para a ampliação da produção científica do Nordeste; de pensar coletivamente, em rede, em bando; de aquilombar. Buscamos uma mobilização crítica e afetiva. Apontamos para possibilidades de experiências ampliadas de uma reunião regional da ANPEd mais horizontal, inclusiva e democrática. Essa obra tem muito disso: apelo para escolher registrar memória positivas. Nela, reunimos narrativas de alguns trabalhos encomendados dos Grupos de Trabalhos. Algumas ideias, pistas, descrição das pesquisas e experiências das temáticas mais específicas: afeto, críticas, erros de análise, resistência, cansaço, vitória, tudo isso misturado. Essa obra é um exemplo de espaço de produção de conhecimento democrático. Pode-se ler individualmente, cada um desses textos, se a pressa existir e interesse por uma temática for enorme. Nós, sugerimos a leitura da obra-teia ou obra-rueira ou melhor obra-mala de mangue.
Que o EPEN possibilite terrenos férteis para compor narrativas outras de formação em pesquisa em educação no Nordeste, reconhecendo outros saberes (de autoria travesti ou de mulheres e homens trans, do povo negro, indígenas, do axé, ciganos, refugiados, pessoas com deficiência). Porque essa é a nova cara da pós-graduação em educação do Nordeste. E, se não for, no mínimo, essa galera está em guerra epistêmica, em busca de alianças e não de coesão. Corpos-políticos, vivendo em um campo de produção, de divulgação e de disputa. Isso é revolucionário.