Arquivos pessoais: fontes potenciais em baús escondidos
Este livro foi acalentado pelas discussões realizadas na disciplina Seminário Avançado Arquivos pessoais: sensibilidades pelos estratos do tempo, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas (2022/2). Foi a partir do Seminário que os questionamentos suscitados durante as aulas deram lugar ao faro das pesquisadoras. As aulas foram ministradas no espaço do Centro de memória e pesquisa Hisales (FaE/UFPel), o que facilitou a condução dos trabalhos entre os referenciais teóricos estudados e a empiria. Assim, sempre que necessário, caixas foram abertas para que o material disponível no acervo do Hisales pudesse servir de reflexão.
Os arquivos pessoais são mil nadas, aos quais refere-se Perrot (1989), à espera das indagações das investigadoras. Como docente da disciplina, fiz algumas perguntas durante as reflexões postas pelos textos lidos: O que você tem na sua casa que te inquieta? Quais os guardados da sua casa que você nunca mexeu? O que você está investigando na dissertação ou tese e que os arquivos pessoais podem lhe auxiliar a desvendar?
Segundo Cunha (2019), “um baú é sempre um objeto interativo: se fechado, conserva, guarda, preserva; se aberto, anuncia, mostra, dá a ver” (CUNHA, 2019, p. 111). Assim, como a metáfora do baú, Adriene, Beatriz, Joseane, Nicéia, Simôni e Vera, mulheres, pesquisadoras em formação, se desafiaram a abrir os baús na busca de fontes para problematização do tema dos arquivos pessoais, o que acabou motivando a organização da obra que se apresenta. Seis mulheres, pesquisadoras em formação que somadas a mim, a Patrícia (orientadora de Beatriz) e às autoras do prefácio e do posfácio, Eliane Peres e Maria Teresa Santos Cunha, buscaram fontes de investigação nos próprios arquivos pessoais ou buscaram arquivos de outras mulheres. Conforme afirma Perrot (2007), “organizar arquivos, conservá-los, guardá-los, tudo isso supõe uma certa relação consigo mesma, com sua própria vida, com sua memória” (PERROT, 2007, p. 30), portanto, aqui são 10 mulheres que integraram o livro e que investigaram, escreveram sobre a história de outras mulheres também responsáveis por guardar arquivos pessoais ou familiares e, assim, deram visibilidade ao que Michelle Perrot afirmou em seus estudos. Dito isso, ao longo dos capítulos, a preferência foi a de usar o termo pesquisadora ou historiadora, ou quando se fez necessário, pesquisadoras e pesquisadores.