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Obra poética de António da Fonseca Soares – Romances do Manuscrito 49-III-81 da Biblioteca da Ajuda de Portugal

Obra poética de António da Fonseca Soares – Romances do Manuscrito 49-III-81 da Biblioteca da Ajuda de Portugal, organizado por Carlos Eduardo Mendes de Moraes, Carla Caroline de Oliveira Santos Beloto e Flávia Renata da Silva Varolo, compõe-se de um conjunto de 117 romances – a maioria dos quais não figura noutras fontes testemunhais – pertencentes ao Ms. 49-III-81 da Biblioteca da Ajuda, de Lisboa. Este códice foi recebido por volta de 1783 pelo poeta, coletor e editor António Correia Viana (1750-1785), que dedicou muitos anos da sua curta vida à obra de autores dos séculos XVII e XVIII, entre os quais Fonseca / Chagas, de quem preparara anteriormente um conjunto de sete volumes manuscritos.
O romance, como explicam os organizadores do livro, é uma forma poética de grande versatilidade, não só pela sua extensão variável, mas também pela sua capacidade de conciliar o tradicional, o popular, o quotidiano, com os novos tempos e uma cultura e um vocabulário mais requintados. Fonseca / Chagas revela-se um excelente praticante do género, o que foi reconhecido até por Verney (“O Chagas, nos seus romances, tirando em certas partes, é dos mais naturais”, escreve ele). Revelando grande vivacidade de raciocínio, recorrendo a um estilo mais codificado ou mais simples, simulando com graça um diálogo geralmente dirigido a uma personagem feminina, o autor apresenta-nos quadros muito vivos das relações humanas e da vida da época, dominados pelo tema do amor nas suas múltiplas variações. Outro aspeto que se destaca é o humor, que pode resultar, por exemplo, da surpresa das imagens. Veja-se esta quadra, a propósito da pequenez de um pé feminino: “Dizem-me, que os teus pézinhos/ quantidade hé tão pequena,/ que merendar bem se podem,/ sem fazer do jejum québra.” Ou esta interpelação a uma lavadeira: “que em meus olhos tens dois Ryos:/ nelles a teu gosto lava”.
Francisco Topa

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