Uma Perpétua Lida: Estudo sobre a Derradeira Injúria, de Machado de Assis

As comemorações do primeiro centenário do marquês de Pombal, em 1882, consolidam a sua mitificação, dando início a uma intensa propaganda de glorificação da qual emergiu uma imagem anacrônica que o tinha como precursor do liberalismo e da democracia. Contudo, tal campanha enfrentou uma empenhada oposição, representada, sobretudo, pela publicação, no mesmo ano, de O perfil do Marquês de Pombal, de Camilo Castelo Branco, obra que fixou a sua imagem como um déspota sanguinário e opressor. No Brasil, a mais importante iniciativa referente ao centenário pombalino foi feita pelo então Clube de Regatas Guanabarense do Rio de Janeiro, atual Botafogo de Futebol e Regatas, e ocorreu no Teatro Imperial Pedro II, a 8 de maio de 1882, com direito a concerto com o maestro Leopoldo Miguez, futuro compositor do Hino da Proclamação da República, e conferência de Rui Barbosa. Três anos depois, o mesmo Clube publicou, em Lisboa, livro O Marquês de Pombal – obra comemorativa do centenário de sua morte, uma coletânea de textos de intelectuais da época sobre o ministro português que inclui A Derradeira Injúria, um conjunto de quatorze sonetos metrificados, rimados e assinados por ninguém menos do que Machado de Assis. Contudo, dado o caráter pouco consensual do homenageado, o autor parece ter evitado tomar qualquer tipo de partido, o que se nota pelo próprio tom do poema e pelo caráter ambíguo de muitas de suas afirmações. Um fato curioso é que, até agora, não foi encontrado nenhum registro de que o célebre escritor carioca tenha participado da cerimônia no Teatro Imperial. Da mesma forma, não há qualquer contribuição do autor no volume de poesias que foi distribuído na ocasião. Como se não bastasse, o próprio Machado não incluiu o poema em suas Poesias Completas, de 1901. Com tais informações, podemos ter a dimensão da importância de Uma perpetua lida: estudo sobre A Derradeira Injúria, de Machado de Assis, livro de João Paulo Papassoni que o selo E-Pomb@l tem o prazer de lançar, não somente porque desvenda uma nova faceta do bruxo do Cosme Velho, mas também porque faz uma brilhante análise formal e interpretativa do poema, contextualizando suas condições de produção e recepção.
Luiz Eduardo Oliveira
Professor Titular da UFS e Coordenador da Cátedra Marquês de Pombal (Camões, I.P. / UFS)