O Prefácio dos Tempos: Caminhos da Romaria do Senhor dos Passos em São Cristóvão
Nesse livro, encontramos muitas romarias: A romaria dos tempos do Império, a romaria da crise republicana, a romaria das disputas entre leigos e ordens reformadoras do catolicismo popular, a romaria da modernidade, a romaria da tradição, a romaria do patrimônio, a romaria dos poderosos, dos comerciantes, das elites, dos intelectuais e dos trabalhadores, populares e romeiros. Ao final do livro o leitor terá conhecido muitas romarias, com suas diversas cores, formas, cheiros e forças.
A história das festas e das romarias é algo recente na historiografia brasileira. Por muito tempo não atraía a atenção dos historiadores talvez exatamente porque eles entendiam que festas e religiosidade eram lugares menos importantes para se observar a mudança do tempo, as transformações da história. Costumavam ser vistas como válvulas de escape dos setores populares e locais do conservadorismo, ou mesmo como sinais da presença de uma pretensa alma popular na formação de Sergipe. Por que estudar festas e romarias se já sabíamos tudo o que iríamos encontrar?
É no desafio da pergunta acima que podemos encontrar uma das valiosas contribuições de Magno Santos. O autor nos mostra o quanto através da Romaria do Senhor dos Passos se fez história, se faz história e se transforma a história. Mais ainda, como é possível, através das romarias festivas, estudar a história de Sergipe, seus conflitos, suas lutas políticas, suas identidades, as lutas dos trabalhadores e dos romeiros populares e as estratégias de dominação dos poderosos.
Mais ainda, o livro nos faz pensar que Romaria do Senhor dos Passos de São Cristóvão poderia não ter chegado aos nossos tempos, como tantas outras que desapareceram pelo longo caminho. Por que chegou? Que formas de repressão, controle, intervenção e regulação sofreram? Foi possível negociar, burlar e vencer as restrições? Como seus organizadores e romeiros lidaram com críticos e opositores, com tempos de crise econômica, política, doenças, conflitos e dificuldades financeiras?
Nunca é pouco dizer e frisar que as festas e as romarias pertencem à história, mesmo que deem a impressão de serem imutáveis e de pertencerem a uma tradição colonial, quase imemorial, a do “prefácio dos tempos”. Como demonstra Magno Santos, as romarias nunca deixaram de ser uma opção, uma opção política e um exercício de um direito de fazer a romaria, manifestado por romeiros, festeiros, seus organizadores, seguidores e participantes. Até mesmo tornaram-se um caminho de encontro entre o passado e o presente, sempre atualizado em tantas novas modernidades.
Vida longa às Romarias do Senhor dos Passos e seus romeiros!