|

O Terremoto de Lisboa

O marquês de Pombal (1699-1782) é um exemplo acabado de mito como algo vivo na sociedade, presente no imaginário popular e nas representações culturais. Se o pensamos como mito de origem, ele assume um caráter redencionista, pois busca identificar as causas da decadência moral, econômica, social e religiosa de Portugal, atribuindo-as aos jesuítas ou aos ingleses. Por outro lado, se o concebemos como mito de fim, ele passa a representar o rompimento de um período de paz e prosperidade, como o pintou o padre jesuíta Gabriel Malagrida (1689-1761) em seu Juízo da Verdadeira Causa do Terramoto (1756), no qual atribui os motivos da catástrofe à falta de zelo dos portugueses pela vida espiritual e ao antijesuitismo pombalino. Convém observar, porém, que o mito de fim se confunde com o mito de origem ou renovação, pois a ideia de criação é sempre motivada por um desejo ou recordação imaginária de uma Idade de Ouro primordial. Não por acaso, o terremoto de Lisboa de 1755, que foi seguido pelo fogo e por um tsunami, e a um só tempo representa um mito de fim e de recomeço, colocando Pombal no lugar dúplice de demiurgo (re)criador de uma Lisboa nova e de anticristo, vai assumir um lugar central tanto em sua carreira política quanto em sua mitologia. O Terramoto de Lisboa (1874), “romance original” de Pinheiro Chagas, inaugura uma tradição de romances históricos sobre este tema já abordado por Voltaire tanto em seu Poema sobre o desastre de Lisboa (1756) quanto em Cândido (1759), e que voltou a despertar o interesse de pesquisadore(a)s e escritore(a)s no século XXI, sobretudo no ano comemorativo dos 250 anos dessa que foi uma das maiores tragédias da Europa, quando foram publicados vários textos jornalísticos, acadêmicos e ficcionais com significativo apelo no mercado editorial. Convidamos o(a)s leitore(a)s para a leitura desta obra fascinante, enriquecida agora pelo estudo de Cleber Vinicius do Amaral Felipe.

O Terremoto de Lisboa
Manuel Pinheiro Chagas
Organizador e estudo crítico: Cleber V. A. Felipe
ISBN 978-85-8413-319-2

Posts Similares